sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Um século de histórias bem vividas

Rodrigo Medeiros / Reprodução / A Tribuna

Milena Nandi
De Siderópolis

Cantor, agricultor, produtor de cachaça e farinha, galanteador, festeiro, benzedor, pai de 16 filhos (o mais velho com 74 anos e o mais novo com 49), avô de mais de 50 netos, bisavô de 50 - incluindo uma menina que nasceu na quarta-feira -, com seis tataranetos e casado por duas vezes. Se fosse possível resumir em poucas linhas a história de um século de vida de Angelo Ambrosio, Cidadão Benemérito de Siderópolis, a apresentação acima seria uma das possibilidades. Seu Ambrosio completou 100 anos no último domingo. Sem festa, porque está preferindo ficar sossegado - a última comemoração de aniversário foi quando fez 98 anos. E apesar de ter deixado de lado os encontros sempre alegres da família, segue com a visão bem apurada para enxergar as "moças bonitas".



Filho de italianos da região de Verona, que chegaram ao Brasil em 1892 e se instalaram nas proximidades de Urussanga, seu Angelo nasceu no país e é o único dos dez filhos de Giuseppe Ambrosio vivo. Apesar da idade, ele não possuiu nenhum problema sério de saúde, apenas algumas complicações decorrentes da idade, e tem pulmões e coração fortes - mesmo tendo começado a fumar palheiro aos oito anos, roubando tabaco da estufa do pai, e parado com o vício depois dos 90 anos, e não aberto mão de um "aperitivo" de vez em quando até perto de completar nove décadas.

Fama de galanteador

Com boa aparência e galanteador, Ambrosio namorou com as duas moças mais bonitas da comunidade, segundo Albertina Ambrosio, 49 anos, a filha mais nova, e se casou com a mais bela das duas: Líbera Dal Farra. O casal teve 16 filhos (inclusive gêmeos). Dois do sexo masculino morreram ainda crianças. Os outros oito homens e seis mulheres estão vivos. Trabalhador rural, Ambrosio plantava arroz, milho, feijão e banana, contando sempre com a ajuda da companheira de mais de 30 anos e dos filhos. "Ele levantava às 5h30min para ir para a roça. Levava os filhos pequenos dentro do balaio. E até os 86 anos ele ainda acordava cedo e ia trabalhar", conta o filho Pedro Ambrosio, 64 anos. E aos 55 anos, seu Angelo ingressou em uma carbonífera da região, onde ficou até se aposentar, aos 65 anos, cuidando dos explosivos das minas. Teve engenho de açúcar e farinha, e produziu cachaça.

Líbera faleceu com 48 anos, meses depois de ter dado à luz Albertina e ter passado por problemas de saúde. Com filhos pequenos para criar, o ex-agricultor casou oito meses depois do falecimento da esposa e ficou viúvo novamente em 1999. "Depois que minha madrasta morreu, ele começou a ficar mais quieto", afirmo Albertina. Mas não parou de apreciar a beleza das mulheres: volta e meia pedia alguma em casamento. Mas não se casou novamente.

Um pai apaziguador e um avô brincalhão

Segundo Aladino Ambrosio, o Dino, 63 anos, o pai sempre foi uma pessoa alegre e boa. Com o irmão na gaita e seu Angelo nos vocais, a dupla animava casamentos e festas em Siderópolis, especialmente do bairro Patrimônio. Ajudava nas festas religiosas e, com os vizinhos e parentes, visitava as casas do bairro na virada do ano. "Eles iam de casa em casa desejando bom princiípio do Ano Novo. Ficavam da meia-noite até às 8h fazendo as visitas e tomando café. Mas eram só os homens que participavam. As mulheres ficavam em casa para servir o café colonial aos visitantes", lembra Dino. E a alegria não era apenas fora de casa. "Ele sempre foi farrista e adorava reunir toda a família para festas", complementa Albertina.


Segundo o filho, a mãe Líbera era mais linha dura que seu Angelo. "Meu pai sempre procurava acalmar a situação. A gente gostava de ir para a roça com ele porque sempre deixava os filhos andarem por tudo", conta Dino. E quando o assunto era profissão dos filhos, seu Angelo não dava palpite. "Ele nunca disse para um filho seguir tal caminho. Cada um escolheu o que quis. Eu fiz faculdade de Educação Física, tenho irmão bombeiro, policial", afirma. E como filho de pais italianos que é, Angelo ensinou aos filhos o dialeto falado pela família Ambrosio.

O ex-agricultor herdou do pai Giuseppe um dom, segundo os filhos. Era benzedor. E até os 90 anos, atendia pessoas do município e de outras cidades que queriam curar "cobreiros" e aliviar dores na coluna e de "nervos fora do lugar". Nenhum filho continuou com a benzedura, mas Dino herdou o dom do canto de seu Angelo. Hoje, ele ocupa o lugar que já foi do pai no Grupo Bellunesi de Siderópolis.


Com os netos, a história se repetiu. Jorge Ambrosio, 34 anos, afirma que o avô sempre deu muita atenção aos familiares e recorda das brincadeiras que o nono Angelo fazia quando era criança. "Lembro sempre de quando eu estava no colo de meus pais e o nono ficava atrás deles, cutucava meu ombro e se escondia para me ver procurar quem tinha feito aquilo", conta. Alegre, brincalhão e elegante, o centenário senhor aparece bem à vontade em fotos familiares. E até 2007, era frequentador assíduo dos desfiles da Festa do Colono em Siderópolis, onde era um dos mais ilustres participantes.

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