quarta-feira, 28 de julho de 2010

A arte da cachaça


Por Silvio Domingos

Família de São Martinho ajuda a manter viva a tradição da produção artesanal da bebida.

Dando continuidade a uma tradição passada de pai para filho, Jaime e Ernesto De Nez trabalham diariamente no cultivo da cana-de-açúcar e na produção artesanal da cachaça. Trabalho que aumenta nesta época do ano, quando o frio e ideal para o corte da planta e a conseqüente produção da bebida.

Seus pais, Primo e Rosalina De Nez, que foram durante 3 anos o Nono Bepe e a Nona Gema, casal símbolo da Festa do Colono de Sideropolis, contam que, apesar de algumas adaptações modernas, as técnicas usadas para a obtenção da cachaça remontam aos tempos dos avos, no inicio da colonização do município. “O local do engenho também e o mesmo, mas a tração e a motor”, diz Dona Rosalina, referindo-se a ausência do boi, usado para mover o engenho no passado. Ao ser perguntado sobre a continuidade do negocio na família, Seu Primo responde com uma certa hesitação nada peculiar a sabedoria dos seus quase 80 anos: “Ensinei tudo pra eles. Se eles quiserem continuar...”



E a duvida se justifica. Apesar do entusiasmo mostrado pelos filhos com a terra e a produção da cachaça, Seu Primo sabe que muitos outros jovens já trocaram o campo pela cidade, findando assim negócios que envolveram gerações. Uma incerteza reforçada por um dos filhos: “Já produzimos bem mais. Nosso negocio mais forte agora e a banana.” E que do alambique dos De Nez, que já produziu uma media de 12 mil litros, hoje so sai de 6 a 7 mil litros de cachaça, proveniente de 2,5 hectares de cana.

Mas as dificuldades vão muito alem do trabalho árduo do campo. “O imposto sobre bebidas alcolicas e altíssimo e um problema para o produtor que busca a legalidade. E inevitável que o custo seja repassado ao consumidor.” Vale lembrar o leitor que um litro de cachaça artesanal de Sideropolis nos moldes atuais custa em media R$ 4,00. Com o registro da marca, impostos e custos contábeis o preço possivelmente subiria.



Para Krieger Santos Leopoldo, biólogo e extensionista rural da EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, se o poder publico e os produtores unidos e legalizados não agirem logo, vai ficar cada vez mais difícil a sobrevivência num mercado que tem excluído os pequenos produtores e valorizado a produção industrial em larga escala. A cachaça de Sideropolis ta caindo de madura pra ser um grande negocio. Infelizmente ainda temos pessoas de mentalidade atrasada que acham que a cachaça e uma imagem ruim pro município”, afirma Krieger. E completa: “Falta reforçar o requinte da bebida e trabalhar a imagem da cachaça artesanal de qualidade. Cachaça não e so uma bebida de boteco.”


PRODUTORES SE ORGANIZAM

Como parte da programação da XX Festa do Colono de Siderópolis, o Centro Social Urbano recebeu na última quinta (15) o Engenheiro Agronomo Herbert Hentschel, da EPAGRI de Florianópolis, para uma palestra sobre a cachaça e as principais questões envolvidas para produzir uma bebida de qualidade diferenciada. Dentre os presentes, produtores de toda a região, incluindo Siderópolis. Dois destes últimos já fazem parte da Cooperativa Familiar Agroindustrial Sul Catarinense – COFASUL, que busca auxiliar agricultores na organização e busca coletiva por melhor qualidade e comercialização de seus produtos. A COFASUL só aguarda documentação junto ao Ministério da Agricultura para assim iniciar plena atividade. “A partir daí, qualquer produtor interessado pode se juntar a nós”, diz o seu presidente, Tarcísio Goldinho, vislumbrando melhores dias e negócios aos produtores membros. E este talvez seja mesmo o futuro da cachaça de Siderópolis e o fim das incertezas de Seu Primo De Nez.

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