NOSSOS IMIGRANTES: DA AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA
À MINERAÇÃO DO CARVÃO EM NOVA BELLUNO – SIDERÓPOLIS (SC)
A industrialização em Santa Catarina começa a dar seus primeiros passos com a chegada dos imigrantes europeus, notadamente italianos e alemães, da metade do século XIX em diante, quando ocupam as regiões norte, sul e oeste do Estado.
Na Colônia de Nova Veneza, a produção agrícola não se destacava em nível estadual. Era uma produção voltada à subsistência até o final do século XIX, no entanto, para atender às necessidades dos colonos imigrantes já existiam na região oito engenhos de cana-de-açúcar.
A força de vontade dos imigrantes italianos estava representada na figura de Miguel Napoli – diretor da colônia – que, a partir do segundo ano da criação da colônia de Nova Veneza, já integrava uma comissão que organizava a participação do sul de Santa Catarina na Exposição Agropecuária de Chicago.
No ano de 1894, três anos após a ocupação de seus lotes, na Colônia Nova Veneza, pôde-se mensurar a força do trabalho de 634 famílias de imigrantes cultivando 3.719 hectares de terra, levando-se em conta a precariedade das estradas e o transporte ineficiente, com a seguinte produção:
Milho 20.225 sacas
Feijão 870 sacas
Arroz 540 sacos
Trigo 49 sacos
Fumo 3.550 quilos
Cana-de-açúcar 35 hectares
Vacas 504
Cavalos 300
Porcos 3.154
Cabras 225
Galinhas 9.474
Fonte: Bortolotto, 1992, p. 134.
Não era a produção desejada, no entanto, na década de 1910, surge a Indústria e Comércio Bortoluzzi S.A., em Nova Veneza, que perduraria por cerca de 40 anos, voltada ao fabrico de produtos suínos. Foi uma oportunidade criada para a região visualizando-se uma produção maior de batata e milho para o desenvolvimento da suinocultura.
Nova Belluno era pujante na produção de cereais e, por essa razão, em 1935, a firma Zeferino Búrigo e Irmãos, com matriz em Cocal – Urussanga (SC), instala-se com uma filial no distrito, comercializando uma infinidade de produtos onde praticava o escambo, ou seja, o colono produtor pagava suas compras com a safra. Venícios Búrigo, contador da firma, reafirma a presença da filial até o ano de 1948, no distrito, exclusivamente, pelo potencial produtivo agrícola, importante suinocultura e agropecuária que se apresentava naquele período. Tal constatação, na produção de cereais, pode ser verificada na venda de 760 sacos de arroz em casca a Jorge Cechinel, em 26 de maio de 1936. (Entrevista com Venícios Búrigo em 13/9/2011). Cocal do Sul (SC).
Com a necessidade da extração do carvão mineral no distrito de Nova Belluno (Siderópolis), na década de 1940, com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Carbonífera Treviso S.A. na década seguinte, houve a desapropriação de uma grande área de terra que provocou de imediato a emigração de muitas famílias para o Estado do Paraná e, nesse contexto, pelos ditames ideológicos do carvão, com o passar do tempo, desqualificou-se a terra para fins agrícolas e requisitando toda a mão de obra existente no distrito e região para suas necessidades. Dentre todos os municípios da região, somente as terras de Siderópolis não eram férteis para a prática da agricultura, suinocultura e agropecuária? Não é uma verdade afirmar que o carvão projetou o crescimento da cidade, pois, em termos de retorno de impostos, hoje, perdemos para muitos municípios que não tiveram mineração, e ocupamos as últimas posições em termos de desenvolvimento econômico entre todos os municípios da Associação dos Municípios da Região Carbonífera (Amrec), diante desses índices desastrosos, para piorar a situação do município, houve uma redução substancial de ICM (Imposto sobre Circulação de Mercadorias) no período de 2003 até o ano de 2011.
Restou ao município um desastre ambiental enorme provocado, no passado, pelas mineradoras. Desastre que continua com o transporte de rejeito piritoso proveniente dos demais municípios da Amrec, para uma nova escolha ou uma nova lavagem, mais apurada, com a qual se obtém um índice muito pequeno de carvão e, por conseguinte, a cidade fica com todo o rejeito depositado no seu solo, diga-se, a bem da verdade, de um volume expressivo de rejeito inútil, sem que os poderes públicos constituídos tomem qualquer atitude para proteger o meio ambiente e a população. A lavação de rejeito deveria ser realizada no município de origem. Diante dessas atitudes, restou à cidade uma grande área de terra não agricultável e quase todo manancial hídrico contaminado, sem que houvesse uma contrapartida do Estado para amenizar os estragos causados pela mineração do carvão em Siderópolis.
A febre da corrida pela extração do carvão é mais lenta que a do ouro, as consequências são as mesmas, a natureza é que paga, enriquecendo poucos.
“A ação civil pública 93.8000533-4, de autoria do Ministério Público Federal, condenou solidariamente as empresas carboníferas de Santa Catarina e a União a recuperar a degradação ambiental proveniente do setor de carvão mineral no sul de Santa Catarina”.
Nilso Dassi
Licenciado e Bacharel em História pela Unesc.
Corretor de Imóveis – Creci/SC 10.830 PF
Setembro/2011.
À MINERAÇÃO DO CARVÃO EM NOVA BELLUNO – SIDERÓPOLIS (SC)
A industrialização em Santa Catarina começa a dar seus primeiros passos com a chegada dos imigrantes europeus, notadamente italianos e alemães, da metade do século XIX em diante, quando ocupam as regiões norte, sul e oeste do Estado.
Na Colônia de Nova Veneza, a produção agrícola não se destacava em nível estadual. Era uma produção voltada à subsistência até o final do século XIX, no entanto, para atender às necessidades dos colonos imigrantes já existiam na região oito engenhos de cana-de-açúcar.
A força de vontade dos imigrantes italianos estava representada na figura de Miguel Napoli – diretor da colônia – que, a partir do segundo ano da criação da colônia de Nova Veneza, já integrava uma comissão que organizava a participação do sul de Santa Catarina na Exposição Agropecuária de Chicago.
No ano de 1894, três anos após a ocupação de seus lotes, na Colônia Nova Veneza, pôde-se mensurar a força do trabalho de 634 famílias de imigrantes cultivando 3.719 hectares de terra, levando-se em conta a precariedade das estradas e o transporte ineficiente, com a seguinte produção:
Milho 20.225 sacas
Feijão 870 sacas
Arroz 540 sacos
Trigo 49 sacos
Fumo 3.550 quilos
Cana-de-açúcar 35 hectares
Vacas 504
Cavalos 300
Porcos 3.154
Cabras 225
Galinhas 9.474
Fonte: Bortolotto, 1992, p. 134.
Não era a produção desejada, no entanto, na década de 1910, surge a Indústria e Comércio Bortoluzzi S.A., em Nova Veneza, que perduraria por cerca de 40 anos, voltada ao fabrico de produtos suínos. Foi uma oportunidade criada para a região visualizando-se uma produção maior de batata e milho para o desenvolvimento da suinocultura.
Nova Belluno era pujante na produção de cereais e, por essa razão, em 1935, a firma Zeferino Búrigo e Irmãos, com matriz em Cocal – Urussanga (SC), instala-se com uma filial no distrito, comercializando uma infinidade de produtos onde praticava o escambo, ou seja, o colono produtor pagava suas compras com a safra. Venícios Búrigo, contador da firma, reafirma a presença da filial até o ano de 1948, no distrito, exclusivamente, pelo potencial produtivo agrícola, importante suinocultura e agropecuária que se apresentava naquele período. Tal constatação, na produção de cereais, pode ser verificada na venda de 760 sacos de arroz em casca a Jorge Cechinel, em 26 de maio de 1936. (Entrevista com Venícios Búrigo em 13/9/2011). Cocal do Sul (SC).
Com a necessidade da extração do carvão mineral no distrito de Nova Belluno (Siderópolis), na década de 1940, com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Carbonífera Treviso S.A. na década seguinte, houve a desapropriação de uma grande área de terra que provocou de imediato a emigração de muitas famílias para o Estado do Paraná e, nesse contexto, pelos ditames ideológicos do carvão, com o passar do tempo, desqualificou-se a terra para fins agrícolas e requisitando toda a mão de obra existente no distrito e região para suas necessidades. Dentre todos os municípios da região, somente as terras de Siderópolis não eram férteis para a prática da agricultura, suinocultura e agropecuária? Não é uma verdade afirmar que o carvão projetou o crescimento da cidade, pois, em termos de retorno de impostos, hoje, perdemos para muitos municípios que não tiveram mineração, e ocupamos as últimas posições em termos de desenvolvimento econômico entre todos os municípios da Associação dos Municípios da Região Carbonífera (Amrec), diante desses índices desastrosos, para piorar a situação do município, houve uma redução substancial de ICM (Imposto sobre Circulação de Mercadorias) no período de 2003 até o ano de 2011.
Restou ao município um desastre ambiental enorme provocado, no passado, pelas mineradoras. Desastre que continua com o transporte de rejeito piritoso proveniente dos demais municípios da Amrec, para uma nova escolha ou uma nova lavagem, mais apurada, com a qual se obtém um índice muito pequeno de carvão e, por conseguinte, a cidade fica com todo o rejeito depositado no seu solo, diga-se, a bem da verdade, de um volume expressivo de rejeito inútil, sem que os poderes públicos constituídos tomem qualquer atitude para proteger o meio ambiente e a população. A lavação de rejeito deveria ser realizada no município de origem. Diante dessas atitudes, restou à cidade uma grande área de terra não agricultável e quase todo manancial hídrico contaminado, sem que houvesse uma contrapartida do Estado para amenizar os estragos causados pela mineração do carvão em Siderópolis.
A febre da corrida pela extração do carvão é mais lenta que a do ouro, as consequências são as mesmas, a natureza é que paga, enriquecendo poucos.
“A ação civil pública 93.8000533-4, de autoria do Ministério Público Federal, condenou solidariamente as empresas carboníferas de Santa Catarina e a União a recuperar a degradação ambiental proveniente do setor de carvão mineral no sul de Santa Catarina”.
Nilso Dassi
Licenciado e Bacharel em História pela Unesc.
Corretor de Imóveis – Creci/SC 10.830 PF
Setembro/2011.
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