A partir de outubro de 1963, sob o comando de Leonel de Moura Brizola, surge no Brasil o movimento denominado grupo dos onze, “grupo de onze companheiros”, objetivando incrementar as reformas prementes que o país tanto necessitava, bem como o rompimento contra o imperialismo americano e o especulativo capital estrangeiro. No início do ano seguinte, Brizola lança o periódico “Panfleto”, o único a ser editado, que dava as coordenadas sobre a organização dos grupos, precauções, deveres dos membros e dos dirigentes. Com a organização dos grupos dos onze, os quais Brizola fazia uma alusão a onze atletas de um time de futebol, em que os membros de cada relação de onze seriam, segundo ele, os soldados que integrariam as fileiras do Exercito Popular de Libertação (EPL) ramificados nos principais estados da união. Foram formados 5.304 grupos que resultariam num exercito de 58.344 pessoas. Sendo um nacionalista extremado, Brizola antevia a performance da oposição e lutou com todas as suas forças para evitar o golpe militar que acabaria por acontecer em 31 de março de 1964.
Em Siderópolis (SC), onze pais de famílias, trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN, todos filiados ao Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, supostamente inscritos em um grupo dos onze, vivendo num tempo de ditadura, passaram a ser rotulados de “comunistas”. O comunista, nesse tempo, era aquela liderança politizada e contestadora, ou aquele que foi filiado no PTB, partido comandado por Brizola, que na verdade nada tinha de comunista. Foram traumáticos os dias seguintes, após o golpe militar para esses trabalhadores, pois todos se sentiram pressionados e a grande maioria foi convidada a prestar depoimento ao delegado regional de Criciúma, senhor Helvídio de Castro Veloso Filho, que, na época, colhia informações para os golpistas. Com certeza, a cidade de Siderópolis passou por momentos delicados e todos os familiares dos indiciados se angustiavam quando as audiências eram marcadas.
Antonio Espíndola Ramiro (Dico), que, naquele tempo, era cobrador da empresa de ônibus ZTL, incumbido de transportar diariamente o malote da CSN para a agência dos correios de Criciúma, afirma que a suposta relação dos onze foi “plantada” no corredor interno do escritório da CSN e encontrada pela funcionária Nila, responsável pelo cafezinho dos funcionários naquela repartição. Alguns nomes que figuravam nessa suposta relação serão citados abaixo. O questionamento muito importante, no entanto, é saber onde encontrar essa relação. Aldo Silveira e Arnaldo dos Santos afirmam que não assinaram tal relação e que esse documento jamais existiu.
A revolta por parte dos citados foi enorme, houve por parte de um deles ameaçar de morte um líder político rival, caso tivesse sido o responsável pela denúncia. Manoel Lasdislau Pereira (Delau), capelão por muito tempo da Igreja Santa Bárbara, no Rio Fiorita, o qual empresta seu nome na praça em frente à referida igreja, de tanto tomar chá para se acalmar, acabou com as folhas das laranjeiras do seu pomar. Tadeu Silvano afirma que seu pai, Antonio Silvano, prestou depoimento em Criciúma para o delegado Veloso. Aldo Silveira, vereador eleito pelo PTB, quando interrogado pelo referido delegado, teve que explicar as razões de ter conseguido tantos votos na segunda eleição em Siderópolis e, durante o interrogatório, o inquisidor procurou relacionar a sua eleição para o legislativo com o auxílio maciço dos integrantes do grupo dos onze. Arnaldo dos Santos, Mario Manoel Ramiro, Delau, Pedro Antonio de Moraes e Manoel Minervina Garcia também prestaram depoimento na delegacia regional de Criciúma. João Jorge Raupp filho, primeiro presidente do Sindicado dos Trabalhadores na Indústria da Extração do Carvão de Siderópolis no periodo de 1961 até 1963, conduziu para dentro de sua casa as tensões que sofreu durante o golpe militar, conseguindo sempre evitar depor, quando solicitado, conforme declaração de sua filha Claudete Raupp Cesa.
É interessante ressaltar que a nominata de domínio público, dos ditos integrantes do clube dos onze, vai muito além dos onze. Outros nomes eram inventados por sujeitos de pouco caráter, com o objetivo de intimidar as pessoas que contestavam o regime existente, esses delatores existiram durante o golpe militar em quase todas as cidades brasileiras, os quais se propunham a entregar de forma vil integrantes de outras correntes partidárias aos torturadores do golpe militar.
Mesmo não se caracterizando como guerrilheiros, sem jamais aparecer uma prova sequer, os citados sentiram na carne o que foi o regime militar, no entanto, fica aqui uma certeza, este artigo se propõe a lembrá-los para sempre como pessoas trabalhadoras e exemplos de pai de família que foram caluniados, maltratados, pessoas que sofreram, porque não, a fúria da oposição entreguista nacional e que silenciosamente conseguiram sobreviver.
Nilso Dassi.
Licenciado e Bacharel em História pela Unesc.
Fevereiro/2009
nilsodassi@hotmail.com
Em Siderópolis (SC), onze pais de famílias, trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN, todos filiados ao Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, supostamente inscritos em um grupo dos onze, vivendo num tempo de ditadura, passaram a ser rotulados de “comunistas”. O comunista, nesse tempo, era aquela liderança politizada e contestadora, ou aquele que foi filiado no PTB, partido comandado por Brizola, que na verdade nada tinha de comunista. Foram traumáticos os dias seguintes, após o golpe militar para esses trabalhadores, pois todos se sentiram pressionados e a grande maioria foi convidada a prestar depoimento ao delegado regional de Criciúma, senhor Helvídio de Castro Veloso Filho, que, na época, colhia informações para os golpistas. Com certeza, a cidade de Siderópolis passou por momentos delicados e todos os familiares dos indiciados se angustiavam quando as audiências eram marcadas.
Antonio Espíndola Ramiro (Dico), que, naquele tempo, era cobrador da empresa de ônibus ZTL, incumbido de transportar diariamente o malote da CSN para a agência dos correios de Criciúma, afirma que a suposta relação dos onze foi “plantada” no corredor interno do escritório da CSN e encontrada pela funcionária Nila, responsável pelo cafezinho dos funcionários naquela repartição. Alguns nomes que figuravam nessa suposta relação serão citados abaixo. O questionamento muito importante, no entanto, é saber onde encontrar essa relação. Aldo Silveira e Arnaldo dos Santos afirmam que não assinaram tal relação e que esse documento jamais existiu.
A revolta por parte dos citados foi enorme, houve por parte de um deles ameaçar de morte um líder político rival, caso tivesse sido o responsável pela denúncia. Manoel Lasdislau Pereira (Delau), capelão por muito tempo da Igreja Santa Bárbara, no Rio Fiorita, o qual empresta seu nome na praça em frente à referida igreja, de tanto tomar chá para se acalmar, acabou com as folhas das laranjeiras do seu pomar. Tadeu Silvano afirma que seu pai, Antonio Silvano, prestou depoimento em Criciúma para o delegado Veloso. Aldo Silveira, vereador eleito pelo PTB, quando interrogado pelo referido delegado, teve que explicar as razões de ter conseguido tantos votos na segunda eleição em Siderópolis e, durante o interrogatório, o inquisidor procurou relacionar a sua eleição para o legislativo com o auxílio maciço dos integrantes do grupo dos onze. Arnaldo dos Santos, Mario Manoel Ramiro, Delau, Pedro Antonio de Moraes e Manoel Minervina Garcia também prestaram depoimento na delegacia regional de Criciúma. João Jorge Raupp filho, primeiro presidente do Sindicado dos Trabalhadores na Indústria da Extração do Carvão de Siderópolis no periodo de 1961 até 1963, conduziu para dentro de sua casa as tensões que sofreu durante o golpe militar, conseguindo sempre evitar depor, quando solicitado, conforme declaração de sua filha Claudete Raupp Cesa.
É interessante ressaltar que a nominata de domínio público, dos ditos integrantes do clube dos onze, vai muito além dos onze. Outros nomes eram inventados por sujeitos de pouco caráter, com o objetivo de intimidar as pessoas que contestavam o regime existente, esses delatores existiram durante o golpe militar em quase todas as cidades brasileiras, os quais se propunham a entregar de forma vil integrantes de outras correntes partidárias aos torturadores do golpe militar.
Mesmo não se caracterizando como guerrilheiros, sem jamais aparecer uma prova sequer, os citados sentiram na carne o que foi o regime militar, no entanto, fica aqui uma certeza, este artigo se propõe a lembrá-los para sempre como pessoas trabalhadoras e exemplos de pai de família que foram caluniados, maltratados, pessoas que sofreram, porque não, a fúria da oposição entreguista nacional e que silenciosamente conseguiram sobreviver.
Nilso Dassi.
Licenciado e Bacharel em História pela Unesc.
Fevereiro/2009
nilsodassi@hotmail.com
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